Artigos | Postado no dia: 28 julho, 2025

Programa de compliance: um instrumento para prevenção de conflitos.

A adoção de um programa de compliance anticorrupção deixou de ser uma opção e se tornou uma exigência estratégica para empresas que querem crescer com segurança no Brasil.

Diante das legislações vigentes, como a Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção), é essencial que os pilares do compliance estejam devidamente formalizados e documentados. Ou seja, não basta ter boas práticas — é preciso ter tudo no papel.

Neste artigo, vamos mostrar o que exatamente sua empresa precisa registrar, como garantir que essas políticas sejam efetivas e quais cuidados tomar para manter a conformidade com as leis brasileiras.

Siga com a leitura!

Por que formalizar o programa de compliance anticorrupção?

Ter um programa de compliance anticorrupção bem estruturado no papel é fundamental por três razões principais:

  1. Segurança jurídica: um programa documentado serve como prova em casos de investigações ou sanções.
  2. Efetividade do programa: políticas escritas aumentam o engajamento e a clareza entre os colaboradores.
  3. Exigência de parceiros e órgãos públicos: empresas que contratam com o governo ou com grandes grupos privados muitas vezes precisam demonstrar que têm políticas de integridade formalizadas.

Assim, o primeiro passo é entender o que deve ser registrado no programa de compliance anticorrupção da sua empresa.

O que precisa estar no papel no seu compliance anticorrupção?

A seguir, listamos os principais documentos e registros que devem constar formalmente no seu programa de compliance anticorrupção:

  1. Código de Ética e Conduta

É o documento base do programa. Deve descrever os valores da empresa, comportamentos esperados e práticas inaceitáveis, incluindo:

  • Proibição de pagamento de propinas
  • Conflitos de interesse
  • Recebimento de presentes e hospitalidades
  • Relações com agentes públicos

Esse código precisa ser amplamente divulgado, com ciência formal dos colaboradores (assinatura, e-mails ou plataforma digital de gestão).

  1. Política Anticorrupção

Específica para o tema, a política anticorrupção complementa o código de ética. Deve conter:

  • Definições do que é corrupção ativa e passiva
  • Canal de denúncia
  • Regras para doações, patrocínios e brindes
  • Sanções em caso de violação
  • Previsão de due diligence para terceiros

Esse documento precisa ser revisado periodicamente para acompanhar mudanças legislativas.

  1. Canal de denúncia

Sua existência deve estar registrada em políticas internas e ser monitorada com cuidado. O canal de denúncia deve garantir:

  • Confidencialidade e proteção ao denunciante
  • Possibilidade de anonimato
  • Registro das denúncias e providências tomadas

Tenha relatórios internos demonstrando o uso e a efetividade do canal.

  1. Treinamentos periódicos

As empresas precisam manter registros de treinamentos realizados, com datas, conteúdos e listas de presença. Isso demonstra que a cultura de integridade está sendo difundida internamente.

Além disso, vale incluir avaliações ou testes para verificar a assimilação dos conteúdos.

  1. Avaliação de riscos de integridade

O programa de compliance anticorrupção deve prever análises periódicas dos riscos de integridade da empresa, levando em conta:

  • Áreas mais expostas (ex.: compras públicas, contratações)
  • Terceiros com acesso a agentes públicos
  • Atividades em regiões de maior risco

Essa análise deve ser documentada e servir de base para ajustes nas políticas internas.

  1. Duediligence de terceiros

Antes de contratar fornecedores ou parceiros, a empresa deve realizar uma verificação (due diligence) de integridade. E mais: esse processo precisa estar documentado com:

  • Questionários
  • Checklists
  • Análise de bases públicas e registros
  • Aprovação formal

Essa prática é especialmente importante em empresas que contratam com o poder público.

  1. Registros de sanções e providências

Havendo violações ao programa de compliance anticorrupção, é necessário manter registros formais das investigações internas e das sanções aplicadas.

Esses registros demonstram que a empresa reage adequadamente a falhas e desvios de conduta.

Dicas para fortalecer o compliance anticorrupção no papel

  • Não dependa apenas de modelos prontos: adapte suas políticas à realidade da empresa.
  • Tenha uma política de versionamento de documentos: registre datas de criação e alterações.
  • Integre o RH no programa: insira obrigações de compliance nos contratos e nas integrações de novos colaboradores.
  • Use tecnologia para registrar treinamentos e assinaturas: plataformas digitais ajudam a manter a rastreabilidade.
  • Tenha uma assessoria jurídica especializada: ela pode identificar riscos ocultos e propor melhorias efetivas.

Conclusão: não basta ter, é preciso provar

A principal lição é clara: não basta ter boas intenções ou práticas informais. O compliance anticorrupção precisa estar no papel, com políticas claras, registros formais e evidências de sua aplicação.

Empresas que negligenciam esse cuidado se colocam em risco, especialmente em setores que lidam com o poder público ou que possuem estruturas complexas.

Estar em conformidade é uma obrigação, mas também uma oportunidade de consolidar uma cultura organizacional ética, sustentável e segura.

Em caso de dúvidas, entre em contato com um advogado tecnicamente habilitado para uma orientação adequada e de acordo com o seu caso.

FAQ – Compliance anticorrupção: dúvidas comuns

  1. Toda empresa é obrigada a ter um programa de complianceanticorrupção?
    Não há uma obrigação legal para todas as empresas, mas a adoção é altamente recomendada. Em contratos com o setor público ou em grandes cadeias corporativas, esse programa pode ser exigido.
  2. Posso usar modelos prontos de código de ética e política anticorrupção?
    Pode ser um ponto de partida, mas os documentos devem ser adaptados à realidade da empresa, com linguagem e exemplos práticos aplicáveis ao seu setor.
  3. Qual é o papel da assessoria jurídica no complianceanticorrupção?
    Ela ajuda a identificar riscos legais, redigir documentos estratégicos e implementar procedimentos eficazes, garantindo aderência à legislação brasileira.
  4. Como garantir que o canal de denúncia seja efetivo?
    Invista em confidencialidade, facilidade de acesso e treinamento para que os colaboradores saibam como e quando usar o canal.
  5. De quanto em quanto tempo devo revisar as políticas de compliance?
    O ideal é fazer uma revisão anual ou sempre que houver mudanças legislativas relevantes ou alterações estruturais na empresa.